Educação

SER PROFESSOR; SER EDUCADOR:   
     Convergências e Bloqueios
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     Ser professor por vocação implica desde criança a construção do sonho pela docência, sonho este que vai crescendo com a adolescência. Já o gosto pela docência é construído à medida que se vai fazendo essa mesma docência, que se vai adquirindo experiência para lidar com as situações de conflito que vão surgindo e situações enriquecedoras, que nos fazem crescer como pessoas, alimentam a nossa alma e concretizam o nosso sonho de criança.
     Talvez acredite na teoria da predestinação, todos nós viémos ao mundo com uma missão, a minha não tenho dúvidas: ensinar e educar, só assim me sinto realizada e assumo um compromisso perante a sociedade.
     A aprendizagem de um professor é feita através da sua prática lectiva, pesquisando e construindo um conhecimento prático; o seu crescimento crítico e a forma como acompanha a mudança, implicam uma transformação da realidade, para a qual tem de estar preparado, só desta forma consegue ter uma visão abrangente do mundo que o rodeia. Mas quando se apercebe que essa transformação não se dá sem a intervenção da educação, começa a ser um professor cada vez mais exigente, procurando através das suas acções e reflexões, que as políticas educativas atenuem as desilusões que ocorrem no percurso da docência.
     Ser professor implica para além de ensinar, a responsabilidade acrescida de ajudar a educar e a formar os jovens, que acompanhamos ao longo de um período particularmente sensível do seu desenvolvimento que é a adolescência.
           De um professor espera-se em primeiro lugar, que seja competente na sua didática, que conheça os conteúdos que leciona, que esteja actualizado; em segundo lugar que saiba comunicar com os seus alunos, motivá-los, entusiasmá-los, que saiba explicar o conteúdo, manter o grupo atento, cooperativo, produtivo. 
     Os grandes educadores atraem não só pelas suas ideias, mas pelo contacto pessoal. Dentro ou fora da aula chamam à atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, enquanto que há outros que não nos surpreendem, repetem fórmulas e sínteses. O contacto com educadores entusiasmados atrai, contagia, estimula, torna-os próximo da maior parte dos alunos.
     As mudanças na educação dependem de gestores que apoiem professores inovadores, que equilibrem a face tecnológica e humana, contribuindo para que haja um maior intercâmbio e comunicação. Só vale a pena ser educador num contexto comunicacional  participativo, interativo e vivencial, só assim os alunos aprendem a ser pessoas, a ser cidadãos. A falta de tecnologias avançadas não é desculpa para não se conseguir uma aprendizagem motivante, com base na aula-pesquisa, na aula-comunicação. É intolerável que ofereçamos aos jovens de hoje as mesmas propostas de trabalho que utilizámos há quinze ou vinte anos atrás.
     É importante  educar para a autonomia, para que cada um encontre o seu próprio ritmo de apendizagem e ao mesmo tempo é importante educar para a cooperação, para aprender em grupo, para trocar ideias, participar em projetos, realizar pesquisas e utilizar a tecnologia como integração e não como distracção ou fuga.
     O educador autêntico é humilde e confiante. Mostra o que sabe e ao mesmo tempo está atento ao que não sabe. Ensina aprendendo a valorizar a diferença, participando em novas descobertas e elaborando novas reflexões construtivas.
     Os professores estruturam a sua acção de acordo com a realidade em que estão inseridos, com os seus pensamentos, os seus valores, a sua maneira de ser, com o seu conhecimento prático, são fatores que influenciam o seu desempenho como professor, que o levam a agir nas mais diversas situações. A seleção dos métodos de ensino tem como pano de fundo a sua própria predisposição para com o ensino, assim como o ambiente de escola e o contexto social em que a escola etá inserida, como salienta José Augusto Pacheco.
         A experiência letiva vai alterando e reformulando o conhecimento prático do professor na prática real da sala de aula. Os conhecimentos práticos do professor baseiam-se, segundo Elbaz (1983), no conhecimento de si mesmo: dos seus valores, crenças, objectivos pessoais; no conhecimento do meio: da escola e da relação com os colegas; do conhecimento dos conteúdos didáticos que leciona; do conhecimento do currículo: objectivos, necessidades do aluno, prioridades; e do conhecimento instrucional: métodos de ensino, recursos, teorias de aprendizagem, procedimentos da avaliação.
     Atualmente não se pode falar da função dos professores enquanto educadores sem contextualizarmos a sua acção na sociedade contemporânea, com todas as  respectivas mudanças que lhe são inerentes. A tomada de decisões do professor são reflexo do contexto histórico-social em que está inserido. O presente histórico em que vivemos é fundamental para compreender a realidade que nos rodeia, assim como a conscencialização das mudanças.
     Um dos grandes desafios prende-se com a necessidade de mudar a escola, de modo em inseri-la numa realidade em permanente mudança. O professor enfrenta um grande dilema que consiste na conciliação da formação que teve e que o preparou para o exercício da sua profissão no contexto de uma escola moderna com os difíceis desafios e exigências culturais, sociais e educativas de uma escola “pós-moderna”.
     Ensinar exige também respeito pelos saberes dos educandos, saberes estes socialmente construídos na prática comunitária, cujas experiências podem ser aproveitadas para discutir a realidade, estabelecendo uma necessária intimidade entre os saberes curriculares fundamentais e a vivência social que os alunos têm enquanto indivíduos.
     Ensinar é um risco, exige aceitação e rejeição a qualquer forma de discriminação; ensinar exige espírito crítico, pesquisa e ética; ensinar exige humildade e tolerância; exige competência profissional e generosidade; ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo; ensinar exige disponibilidade para o diálogo e saber escutar.
     É necessário ensinar o que os alunos precisam de saber, enquanto sujeitos situados num determinado estágio histórico, para que assim despertem consciência política e cidadã. Ser professor é mais do que ensinar fórmulas e técnicas, é também educar, formar. Formar gente pensante, com senso crítico aguçado capaz de perceber e combater as injustiças.
     A chamada “educação permanente” é fundamental para todos os educadores que devem procurar estar sempre actualizados quer no âmbito científico-pedagógico, quer com o que se passa no mundo atual. 
     É importante sermos professores-educadores, com um amadurecimento intelectual, emocional e comunicacional que facilite todo o processo da aprendizagem. Pessoas abertas, sensíveis, humanas, que valorizem mais a busca que o resultado, mais o estímulo que a repreensão.
     O papel do pedagogo é diagnosticar os problemas, buscar soluções, avaliar as acções e encontrar a melhor maneira para solucionar os problemas, nunca desistir diante dos conflitos e fracassos e buscar sempre alternativas através da troca de experiências.
     Em síntese, um professor não pode, nem deve ensinar, sem educar e ao educar está a ensinar!